quarta-feira, 17 de julho de 2024

DEIXEM-ME ENVELHECER

Deixem-me envelhecer sem compromissos e cobranças,

Sem a obrigação de parecer jovem e ser bonita para alguém,

Quero ao meu lado quem me entenda e me ame como eu sou,

Um amor para dividirmos tropeços desta nossa última jornada,

Quero envelhecer com dignidade, com sabedoria e esperança,

Amar minha vida, agradecer pelos dias que ainda me restam,

Eu não quero perder meu tempo precioso com aventuras,

Paixões perniciosas que nada acrescentam e nada valem.

Deixem-me envelhecer com sanidade e discernimento,

Com a certeza que cumpri meus deveres e minha missão,

Quero aproveitar essa paz merecida para descansar e refletir,

Ter amigos para compartilharmos experiências, conhecimentos,

Quero envelhecer sem temer as rugas e meus cabelos brancos,

Sem frustrações, terminar a etapa final desta minha existência,

Não quero me deixar levar por aparências e vaidades bobas,

Nem me envolver com relações que vão me fazer infeliz.

Deixem-me envelhecer, aceitar a velhice com suas mazelas,

Ter a certeza que minha luta não foi em vão: teve um sentido,

Quero envelhecer sem temer a morte e ter medo da despedida,

Acreditar que a velhice é o retorno de uma viagem, não é o fim,

Não quero ser um exemplo, quero dar um sentido ao meu viver,

Ter serenidade, um sono tranquilo e andar de cabeça erguida,

Fazer somente o que eu gosto, com a sensação de liberdade,

Quero saber envelhecer, ser uma velha consciente e feliz!!!


Autoria

Concita Weber

segunda-feira, 11 de março de 2024

Ten Commandments

 

Ten Commandments

Letter

You ask for my ten commandments.

This is very difficult
because I am against any sort of commandment.
Yet, just for the fun of it I set down what follows:

1. Obey no orders except those from within.
2. The only God is life itself.
3. Truth is within, do not look for it elsewhere.
4. Love is prayer.
5. Emptiness is the door to truth; it is the means, the end and the achievement.
6. Life is here and now.
7. Live fully awake.
8. Do not swim, float.
9. Die each moment so that you are renewed each moment.
10. Stop seeking. That which is, is: stop and see.

Osho 

A cup of Tea

quarta-feira, 6 de setembro de 2023

Tenho muito para fazer

 Um velho eremita, refugiou-se na montanha por muito tempo. Um dia alguém apareceu e lhe perguntou:

Com o que se ocupa, se vive na solidão?

Tenho muito para fazer: Treinar dois falcões e duas águias. Tranquilizar dois coelhos. Disciplinar uma cobra. Motivar um burro e domar um leão.

Não vejo nenhum aqui. Onde estão?

Esses animais os carregamos todos dentro. Os dois falcões se arremessam sobre tudo o que lhes acontece, bom ou ruim. Tenho que treiná-los para que se lancem sobre coisas boas: São os meus olhos.

As duas águias com suas garras ferem e destroem, tenho que treiná-las para que se coloquem no serviço do Bem: São minhas mãos.

Os coelhos querem ir para onde querem, querem contornar as situações difíceis, tenho que ensinar-lhes a ficar tranquilos mesmo que haja sofrimento ou problema: São os meus pés.

O mais difícil é vigiar a cobra, está presa em uma gaiola, mas está sempre pronta para atacar, e colocar seu veneno em qualquer um: É a minha língua.

O burro é teimoso, está sempre cansado e recusa-se a carregar a sua carga todos os dias: É o meu corpo.

Finalmente preciso domar o leão, quer ser o rei, é arrogante, vaidoso, quer sempre ser o primeiro, se acha o melhor: É o meu ego. Como vê tenho muito trabalho para fazer

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

os dedos cheios de giz

 - Mãe.

- Diz.

- Porque é que as pessoas velhinhas têm o cabelo branco?

- Porque o Tempo é professor e tem as mãos cheias de giz.

- Mas o Tempo não escreve no quadro, mãe.

- Pois não, o Tempo escreve na vida de cada um de nós para nos ensinar até ao fim as lições que temos de aprender.

- E depois?

- Depois sorri e passa os dedos cheios de giz pelo nosso cabelo, para que de cada aula dada se faça lição aprendida. São assim as lições de vida.

Lisa Aisato

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Talvez seja a razão dos pais serem excluídos…

 Talvez seja a razão dos pais serem excluídos do seu papel tão  facilmente. 

“Durante a gravidez, as células do bebé migram para a circulação sanguínea da mãe e depois regressam ao bebé, isto é chamado de “microquimerismo fetal-materno. ”

Durante 41 semanas, as células circulam e fundem-se, e depois que o bebê nasce, muitas dessas células permanecem no corpo da mãe, deixando uma marca permanente nos tecidos, ossos, cérebro e pele da mãe, e mais e frequentemente durante décadas.

Toda criança deixará uma pegada semelhante.

Estudos também mostraram células de um feto no cérebro de uma mãe 18 anos após o nascimento.

Pesquisas mostraram que se o coração de uma mãe está ferido, as células fetais correm para o local da lesão e transformam-se em diferentes tipos de células especializadas em reparar o coração.

O bebê ajuda a mãe a reparar, enquanto a mãe constrói o bebê.

É frequentemente por isso que algumas doenças desaparecem durante a gravidez.

É incrível como o corpo da mãe protege o bebê a qualquer custo, e o bebê protege e reconstrói sua mãe - para que ele possa se desenvolver e sobreviver com segurança.

Se és mãe sabes que consegues sentir intuitivamente o teu filho mesmo quando ele não está por perto...

Bem, agora existe a prova científica de que as mães carregam seus bebês por anos e anos mesmo depois de dar à luz.”

Brigitte L’homme

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Inunda-me com o teu amor por um minuto

….

Confia.

Deixa ficar enquanto sentirmos

Deixa-me regar sempre com a água que brota de mim

Aceita que corra este rio que é meu entre esta terra e o sol que é teu.

Que o solo acolha e o sol aqueça

Que a água amacie e sacie a sede

Dança…

Deixa florir

Alexandre Guerreiro 

28-08-2018

Gosto da verdade...

...se doer não faz mal, depois passa…

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Na vida, você não leva nada.

 Na vida, você não leva nada. 

O quão maravilhoso você se permite ser a cada momento, isso é a única coisa que você tem.

Sadhguru 

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Paixão vs compaixão

 “De todas as emoções que você pode cultivar dentro de você, a compaixão é a que menos traz emaranhamentos e é, ao mesmo tempo, a emoção mais libertadora que você pode ter.

Você pode viver sem compaixão, mas, de qualquer forma, você tem emoções, portanto é melhor transformá-las em compaixão do que em qualquer outra coisa, porque todas as outras emoções têm a capacidade de emaranhar. A compaixão é uma dimensão da emoção que é libertadora, que não se emaranha com nada e nem com ninguém.

Em geral, o seu amor é movido pela paixão. “Compaixão” significa uma paixão abrangente. Quando ela exclui, nós a chamamos de paixão. Quando ela inclui tudo, nós a chamamos de compaixão. O amor começa, inicialmente, a partir de um certo afeto, por isso ele depende de que alguém ou de que algo seja bom para você, é claro. Você está sempre contando com a bondade de algo ou de alguém. Ou, em outras palavras, a emoção fica limitada. Desde que a pessoa que você ama seja boa, você consegue continuar a amá-la. Se elas se demonstrarem ser seja lá o que for que você considere como mau, você não as amará mais.

A vantagem da compaixão é que, se alguém for muito mau, de uma forma patética ou em um estado de maldade, você poderá ter mais compaixão com ele ou com ela. A compaixão não o limita. Ela não faz distinção entre bom e mau. Portanto, a compaixão é, definitivamente, uma emoção mais libertadora do que o amor.

O amor é geralmente sobre alguém. Ele pode ser lindo, mas é bem exclusivo. Se dois amantes se sentarem juntos, o resto do mundo é excluído por eles. Eles criaram o seu próprio mundo artificial de união. Basicamente, é como se fosse uma conspiração. Você sempre curte a sua conspiração, porque, na conspiração, você se torna especial, ninguém mais sabe nada sobre isso. Normalmente, para a maioria das pessoas, a alegria de amar é apenas essa conspiração.

Eles se apaixonam, desfrutam bastante, mas, quando se casam, isso é declarado ao mundo. De repente, toda a fantasia desaparece, porque não é mais uma conspiração, é do conhecimento de todos.

Esse esquema de conspiração no amor cria muita pressão para as pessoas. Se você excluir o restante da existência de sua experiência, isso o levará ao sofrimento. Se começar como paixão e terminar como paixão, você estará buscando por muitos problemas na sua vida, será um emaranhamento. Se começar como paixão e se expandir em compaixão, poderá ser libertador.”

-Sadhguru

Este é um resumo do artigo, para lê-lo na íntegra acesse o link abaixo:

“https://isha.sadhguru.org/global/pt/wisdom/article/o-amor-emaranha-a-compaixao-liberta”

TEXTO DA POSTAGEM INSTAGRAM

Sadhguru fala sobre as diferenças entre o amor, a paixão e a compaixão, e sobre a transição da conspiração para a inclusão.

“Em geral, o seu amor é movido pela paixão. “Compaixão” significa uma paixão abrangente. Quando ela exclui, nós a chamamos de paixão. Quando ela inclui tudo, nós a chamamos de compaixão. O amor começa, inicialmente, a partir de um certo afeto, por isso ele depende de que alguém ou de que algo seja bom para você, é claro. Você está sempre contando com a bondade de algo ou de alguém. Ou, em outras palavras, a emoção fica limitada. Desde que a pessoa que você ama seja boa, você consegue continuar a amá-la. Se elas se demonstrarem ser seja lá o que for que você considere como mau, você não as amará mais.

A vantagem da compaixão é que, se alguém for muito mau, de uma forma patética ou em um estado de maldade, você poderá ter mais compaixão com ele ou com ela. A compaixão não o limita. Ela não faz distinção entre bom e mau. Portanto, a compaixão é, definitivamente, uma emoção mais libertadora do que o amor.”

-Sadhguru

Este é um trecho do artigo “O amor emaranha. A compaixão liberta.”, para lê-lo na íntegra acesse o link na bio.

https://isha.sadhguru.org/global/pt/wisdom/article/o-amor-emaranha-a-compaixao-liberta

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

I asked the leaf

 "I asked the leaf whether it was frightened because it was autumn and the other leaves were falling. 


The leaf told me, 

”No. During the whole spring and summer, I was completely alive. I worked hard to help nourish the tree, and now much of me is in the tree. I am not limited by this form. I am also the whole tree, and when I go back to the soil, I will continue to nourish the tree. So I don’t worry at all. As I leave this branch and float to the ground, I will wave to the tree and tell her, 'I will see you again very soon.'”


That day, there was a wind blowing and, after a while, I saw the leaf leave the branch and float down to the soil, dancing joyfully. It was so happy. 

I bowed my head, knowing that I have a lot to learn from the leaf. 


So please look and you will see that you have always been here. Let us look together and penetrate into the life of a leaf, so we may be one with the leaf. Let us penetrate and be one with everything, to realize our own nature and be free from fear. If we look very deeply, we will transcend birth and death.


Tomorrow, I will continue to be. But you will have to be very attentive to see me. I will be a flower, or a leaf. I will be in these forms and I will say hello to you. If you are attentive enough, you will recognize me, and you may greet me. I will be very happy."


~ Thich Nhat Hanh


"Perguntei à folha se estava assustada porque era outono e as outras folhas estavam a cair


  A folha me disse:


  "Não . Durante toda a primavera e o verão, eu estava completamente viva. Trabalhei duro para ajudar a nutrir a árvore, e agora muito de mim está na árvore. Não estou limitado por essa forma. Eu também sou a árvore inteira,  e quando eu voltar para o solo, continuarei a nutrir a árvore. Então não me preocupo. Ao sair deste galho e flutuar até o chão, vou acenar para a árvore e dizer- lhe : 'Eu vou-te ver  novamente muito em breve.'”


  Naquele dia, soprava um vento e, depois de um tempo, vi a folha sair do galho e flutuar até o solo, dançando alegremente.  Foi tão feliz.

  Baixei a cabeça, sabendo que tenho muito a aprender com a folha.


  Então, por favor, olha e verás  que tu  sempre estiveste aqui.  Vamos olhar juntos e penetrar na vida de uma folha, para que possamos ser um com a folha.  Vamos penetrar e ser um com tudo, para percebermos a  nossa própria natureza e sermos livres do medo.  Se olharmos muito profundamente, transcenderemos o nascimento e a morte.


  Amanhã, continuarei a ser.  Mas tu terás  que estar muito atento para me veres.  Serei uma flor, ou uma folha.  Estarei nestas formas e direi olá a vocês.  Se estiveres atento o suficiente, vais-me reconhecer e poderás- me cumprimentar.  

Eu vou ficar muito feliz."


  ~Thich Nhat Hanh

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Meu amor encontra-me

 Meu amor encontra-me

Vem ao de leve ter comigo

Abraça-me meu amor

Beija-me meu amor

E ao de leve 

deixa-me acreditar em ti


aguardo esse momento desde que nasci

vivo para esse dia

quero que esse dia chegue

preciso que seja hoje ou amanhã


amor vem ter comigo

amor estou demasiado só

morro de solidão

morro por dentro

não sei viver assim sem ti


preciso de te beijar

preciso de te abraçar

preciso de falar contigo

preciso de te acariciar

preciso de sonhar ao teu lado

preciso de construir contigo

preciso de ti

preciso que precises de tudo isto também


14-11-07


Deixa passar esta dor

 Deixa passar esta dor

Olha o que está por baixo

Dois pontos longe

Barulho ao fundo


Arde o estômago

Calor em todo o corpo

Som ondulante no dia

Balanço de emoções


Encontro-te comigo

Mexo os braços

Olho a rua

É Outono


23-11-04


As tardes passam calmas e sem sentido

 As tardes passam calmas e sem sentido

Algumas

Outras 

Envolvem-nos de emoções e movimentos 

Que não esperamos

Mas sempre aguardámos


Sensações de tudo

De pleno e simples

Suave ondulação

Procura, encontro e troca


Medo de me perder 

De não agradar

De encontrar o que não se quer


Essa terrível sensação de medo

Esse fantasma que se esconde

Dentro do que mais “queremos”


Ficaram duas coisas

Uma boa tarde

E alguma esperança


18-11-04


A paz que me fugia

A paz que me fugia

Está aqui com tanta força

Que me sinto a flutuar 

Sereno e morno

Sem historia nem direcção.

Foi a tua aceitação de mim

É a minha aceitação de tudo

Sabemos nestes momentos

Que a felicidade é paz.

É aceitar é sentir

O mundo é igual ao de ontem

Mas eu não 

Algo em mim mudou

Eu acreditei que podia

E merecia este amor

Alma inquieta que te rendeste 

À partilha com alguém

Alguém que espero

Esteja como eu

Cheia de bem-estar

E vazia de turbulência

É preciso chegar ao desespero 

Para que o mundo olhe por nós 

E nos encante

Com mais uma das suas magias

Espera só mais um momento 

E ouve este som

Sente esta pele, este aroma

Encanto de sereia no marinheiro

Do meu mar de esperança

Abraça-me uma e outra vez

Sem te cansares

Sem adormeceres

Deixa-me fazer só mais uma festa

No teu pescoço suave e doce.

Juntos fazemos musica

Não de ouvir 

Mas sentir como uma vibração

Que vem do fundo da humanidade

Enquanto nos repartimos nas palavra 

E nos gestos

Amiga Mulher Amante

Senhora da chave secreta 

Da minha alma 

Contigo foi isto 

O tempo que fale


12-11-2004


Só, tristemente só.

Só, tristemente só. 

Capaz de ser infeliz mas incapaz de me render às inversões do outro.

Dói-me o corpo, dói-me a alma. Mais uma vez não tive a possibilidade de construir um caminho que me parecia ao longe que era o meu, mas ao me aproximar encontrei muitas situações de resistência, dificuldades e inversões de sentido.

Só queria ser feliz.

Queria só estar contigo como estou quando estamos no Skype.

Pareces ao longe que és como eu, mas quando te aproximas, recuas e desapareces.

Tens medo, duvidas…

Quando duvidamos de um sonho ele desaparece…


10-11-08


Tempo despido de saudade e de tristeza

 Tempo despido de saudade e de tristeza

Saído do tempo visto

Tenta me encontrar como tenho vivido


Tema da vida passada

Obra da memória esquecida

Da busca do nada 

Encontro de novo com a vida

Busca o tempo que não vivi

Encontra a vida que sofri 


E espera


20-11-04


Sempre soube o que ainda não sei

 

Sempre soube o que ainda não sei

Já sinto o que vou ter

Mas sem saber

Tenho a vida que fiz sem querer

Faço o dia que vivo com cuidado

Olho os dias que passaram com amor

Espreito os dias que vêm com curiosidade

E paro

E oiço

Como é?

 

2005-05-18

terça-feira, 6 de julho de 2021

Autobiography in Five Short Chapters By Portia Nelson

I

I walk down the street.
There is a deep hole in the sidewalk
I fall in.
I am lost ... I am helpless.
It isn't my fault.
It takes me forever to find a way out.

II

I walk down the same street.
There is a deep hole in the sidewalk.
I pretend I don't see it.
I fall in again.
I can't believe I am in the same place
but, it isn't my fault.
It still takes a long time to get out.

III

I walk down the same street.
There is a deep hole in the sidewalk.
I see it is there.
I still fall in ... it's a habit.
my eyes are open
I know where I am.
It is my fault.
I get out immediately.

IV

I walk down the same street.
There is a deep hole in the sidewalk.
I walk around it.

V

I walk down another street.

domingo, 6 de dezembro de 2020

"A HOSPEDARIA"

Ser humano é como uma hospedaria  onde todas as manhãs há uma nova chegada. 

Uma nova alegria, uma depressão, uma mesquinharia, uma percepção momentânea chega, como visitantes inesperados.

Acolha e distraia a todos! Mesmo se for uma multidão de tristezas, que varre violentamente sua casa e a esvazia de toda a mobília,

Mesmo assim, honre os seus hóspedes. 

Eles podem estar limpando você para a chegada de um novo deleite. 

O pensamento escuro, a vergonha, a malícia, receba-os sorrindo à porta, e convide-os a entrar. 

Seja grato a quem vier, porque todos foram enviados..."

Rumi, o poeta sufista do séc.XIII

Tirado do livro ATENÇÃO PLENA - Mark William e e Danny Penman.  

domingo, 9 de agosto de 2020

EGO, O FALSO CENTRO

"O primeiro ponto a ser compreendido é o ego.

      Uma criança nasce sem qualquer conhecimento, sem qualquer consciência de seu próprio eu. E quando uma criança nasce, a primeira coisa da qual ela se torna consciente não é ela mesma; a primeira coisa da qual ela se torna consciente é o outro. Isso é natural, porque os olhos se abrem para fora, as mãos tocam os outros, os ouvidos escutam os outros, a língua saboreia a comida e o nariz cheira o exterior. Todos esses sentidos abrem-se para fora. O nascimento é isso.

     Nascimento significa vir a esse mundo: o mundo exterior. Assim, quando uma criança nasce, ela nasce nesse mundo. Ela abre os olhos e vê os outros. O outro significa o tu.

      Ela primeiro se torna consciente da mãe. Então, pouco a pouco, ela se torna consciente de seu próprio corpo. Esse também é o 'outro', também pertence ao mundo. Ela está com fome e passa a sentir o corpo; quando sua necessidade é satisfeita, ela esquece o corpo. É dessa maneira que a criança cresce.

      Primeiro ela se torna consciente do você, do tu, do outro, e então, pouco a pouco, contrastando com você, com tu, ela se torna consciente de si mesma.

      Essa consciência é uma consciência refletida. Ela não está consciente de quem ela é. Ela está simplesmente consciente da mãe e do que ela pensa a seu respeito. Se a mãe sorri, se a mãe aprecia a criança, se diz 'você é bonita', se ela a abraça e a beija, a criança sente-se bem a respeito de si mesma. Assim, um ego começa a nascer. 

      Através da apreciação, do amor, do cuidado, ela sente que é ela boa, ela sente que tem valor, ela sente que tem importância. Um centro está nascendo. Mas esse centro é um centro refletido. Ele não é o ser verdadeiro. A criança não sabe quem ela é; ela simplesmente sabe o que os outros pensa a seu respeito.

      E esse é o ego: o reflexo, aquilo que os outros pensam. Se ninguém pensa que ela tem alguma utilidade, se ninguém a aprecia, se ninguém lhe sorri, então, também, um ego nasce - um ego doente, triste, rejeitado, como uma ferida, sentindo-se inferior, sem valor. Isso também é ego. Isso também é um reflexo. 

      Primeiro a mãe. A mãe, no início, significa o mundo. Depois os outros se juntarão à mãe, e o mundo irá crescendo. E quanto mais o mundo cresce, mais complexo o ego se torna, porque muitas opiniões dos outros são refletidas.

      O ego é um fenômeno cumulativo, um subproduto do viver com os outros. Se uma criança vive totalmente sozinha, ela nunca chegará a desenvolver um ego. Mas isso não vai ajudar. Ela permanecerá como um animal. Isso não significa que ela virá a conhecer o seu verdadeiro eu, não. 

      O verdadeiro só pode ser conhecido através do falso, portanto, o ego é uma necessidade. Temos que passar por ele. Ele é uma disciplina. O verdadeiro só pode ser conhecido através da ilusão. Você não pode conhecer a verdade diretamente. Primeiro você tem que conhecer aquilo que não é verdadeiro. Primeiro você tem que encontrar o falso. Através desse encontro, você se torna capaz de conhecer a verdade. Se você conhece o falso como falso, a verdade nascerá em você. 

      O ego é uma necessidade; é uma necessidade social, é um subproduto social. A sociedade significa tudo o que está ao seu redor, não você, mas tudo aquilo que o rodeia. Tudo, menos você, é a sociedade. E todos refletem. Você irá à escola e o professor refletirá quem você é. Você fará amizade com as outras crianças e elas refletirão quem você é. Pouco a pouco, todos estarão adicionando algo ao seu ego, e todos estarão tentando modificá-lo, de modo que você não se torne um problema para a sociedade. 

      Eles não estão interessados em você. Eles estão interessados na sociedade. A sociedade está interessada nela mesma, e é assim que deveria ser. Eles não estão interessados no fato de que você deveria se tornar um conhecedor de si mesmo. Interessa-lhes que você se torne uma peça eficiente no mecanismo da sociedade. Você deveria ajustar-se ao padrão. 

      Assim, estão interessados em dar-lhe um ego que se ajuste à sociedade. Ensinam-lhe a moralidade. Moralidade significa dar-lhe um ego que se ajuste à sociedade. Se você for imoral, você será sempre um desajustado em um lugar ou outro...

      Moralidade significa simplesmente que você deve se ajustar à sociedade. Se a sociedade estiver em guerra, a moralidade muda. Se a sociedade estiver em paz, existe uma moralidade diferente. A moralidade é uma política social. É diplomacia. E toda criança deve ser educada de tal forma que ela se ajuste à sociedade; e isso é tudo, porque a sociedade está interessada em membros eficientes. A sociedade não está interessada no fato de que você deveria chegar ao auto-conhecimento.

      A sociedade cria um ego porque o ego pode ser controlado e manipulado. O eu nunca pode ser controlado e manipulado. Nunca se ouviu dizer que a sociedade estivesse controlando o eu - não é possível.

      E a criança necessita de um centro; a criança está absolutamente inconsciente de seu próprio centro. A sociedade lhe dá um centro e a criança pouco a pouco fica convencida de que esse é o seu centro, o ego dado pela sociedade. 

      Uma criança volta para casa. Se ela foi o primeiro lugar de sua sala, a família inteira fica feliz. Você a abraça e beija; você a coloca sobre os ombros e começa a dançar e diz 'que linda criança! você é um motivo de orgulho para nós.' Você está dando um ego para ela, um ego sutil. E se a criança chega em casa abatida, fracassada, foi um fiasco na sala - ela não passou de ano ou tirou o último lugar, então ninguém a aprecia e a criança se sente rejeitada. Ela tentará com mais afinco na próxima vez, porque o centro se sente abalado. 

      O ego está sempre abalado, sempre à procura de alimento, de alguém que o aprecie. E é por isso que você está continuamente pedindo atenção. 

      Você obtém dos outros a idéia de quem você é.  Não é uma experiência direta. 

      É dos outros que você obtém a idéia de quem você é. Eles modelam o seu centro. Mas esse centro é falso, enquanto que o centro verdadeiro está dentro de você. O centro verdadeiro não é da conta de ninguém. Ninguém o modela. Você vem com ele. Você nasce com ele. 

      Assim, você tem dois centros. Um centro com o qual você vem, que lhe é dado pela própria existência. Esse é o eu. E o outro centro, que é criado pela sociedade - o ego. Esse é algo falso -  é um grande truque. Através do ego a sociedade está controlando você. Você tem que se comportar de uma certa maneira, porque somente assim a sociedade irá apreciá-lo. Você tem que caminhar de uma certa maneira; você tem que rir de uma certa maneira; você tem que seguir determinadas condutas, uma moralidade, um código. Somente assim a sociedade o apreciará, e se ela não o fizer, o seu ego ficará abalado. E quando o ego fica abalado, você já não sabe onde está, você já não sabe quem você é. 

      Os outros deram-lhe a idéia. E essa idéia é o ego. Tente entendê-lo o mais profundamente possível, porque ele tem que ser jogado fora. E a não ser que você o jogue fora, nunca será capaz de alcançar o eu. Por estar viciado no falso centro, você não pode se mover, e você não pode olhar para o eu. E lembre-se: vai haver um período intermediário, um intervalo, quando o ego estará se despedaçando, quando você não saberá quem você é, quando você não saberá para onde está indo; quando todos os limites se dissolverão. Você estará simplesmente confuso, um caos. 

      Devido a esse caos, você tem medo de perder o ego. Mas tem que ser assim. Temos que passar através do caos antes de atingir o centro verdadeiro. E se você for ousado, o período será curto. Se você for medroso e novamente cair no ego, e novamente começar a ajeitá-lo, então, o período pode ser muito, muito longo; muitas vidas podem ser desperdiçadas...

      Até mesmo o fato de ser infeliz lhe dá a sensação de "eu sou". Afastando-se do que é conhecido, o medo toma conta; você começa sentir medo da escuridão e do caos - porque a sociedade conseguiu clarear uma pequena parte de seu ser... É o mesmo que penetrar numa floresta. Você faz uma pequena clareira, você limpa um pedaço de terra, você faz um cercado, você faz uma pequena cabana; você faz um pequeno jardim, um gramado, e você sente-se bem. Além de sua cerca - a floresta, a selva. Mas aqui dentro tudo está bem: você planejou tudo. 

      Foi assim que aconteceu. A sociedade abriu uma pequena clareira em sua consciência. Ela limpou apenas uma pequena parte completamente, e cercou-a. Tudo está bem ali. Todas as suas universidades estão fazendo isso. Toda a cultura e todo o condicionamento visam apenas limpar uma parte, para que ali você possa se sentir em casa. 

      E então você passa a sentir medo. Além da cerca existe perigo. 

      Além da cerca você é, tal como você é dentro da cerca -  e sua mente consciente é apenas uma parte, um décimo de todo o seu ser. Nove décimos estão aguardando no escuro. E dentro desses nove décimos, em algum lugar, o seu centro verdadeiro está oculto. 

      Precisamos ser ousados, corajosos. Precisamos dar um passo para o desconhecido. 

      Por um certo tempo, todos os limite ficarão perdidos. Por um certo tempo, você vai se sentir atordoado. Por um certo tempo, você vai se sentir muito amedrontado e abalado, como se tivesse havido um terremoto. 

      Mas se você for corajoso e não voltar para trás, se você não voltar a cair no ego, mas for sempre em frente, existe um centro oculto dentro de você, um centro que você tem carregado por muitas vidas. Esse centro é a sua alma, o eu.

      Uma vez que você se aproxime dele, tudo muda, tudo volta a se assentar novamente. Mas agora esse assentamento não é feito pela sociedade. Agora, tudo se torna um cosmos e não um caos, nasce uma nova ordem. Mas essa não é a ordem da sociedade - essa é a própria ordem da existência. 

      É o que Buda chama de Dhamma, Lao Tzu chama de Tao, Heráclito chama de Logos. Não é feita pelo homem. É a própria ordem da existência. Então, de repente tudo volta a ficar belo, e pela primeira vez, realmente belo, porque as coisas feitas pelo homem não podem ser belas. No máximo você pode esconder a feiúra delas, isso é tudo. Você pode enfeitá-las, mas elas nunca podem ser belas...

      O ego tem uma certa qualidade: a de que ele está morto. Ele é de plástico. E é muito fácil obtê-lo, porque os outros o dão a você. Você não precisa procurar por ele; a busca não é necessária. Por isso, a menos que você se torne um buscador à procura do desconhecido, você ainda não terá se tornado um indivíduo. Você é simplesmente mais um na multidão. Você é apenas uma turba. Se você não tem um centro autêntico, como pode ser um indivíduo?

      O ego não é individual. O ego é um fenômeno social - ele é a sociedade, não é você. Mas ele lhe dá um papel na sociedade, uma posição na sociedade. E se você ficar satisfeito com ele, você perderá toda a oportunidade de encontrar o eu. E por isso você é tão infeliz. Como você pode ser feliz com uma vida de plástico? Como você pode estar em êxtase ser bem-aventurado com uma vida falsa?  E esse ego cria muitos tormentos. O ego é o inferno. Sempre que você estiver sofrendo, tente simplesmente observar e analisar, e você descobrirá que, em algum lugar, o ego é a causa do sofrimento. E o ego segue encontrando motivos para sofrer...

      E assim as pessoas se tornam dependentes, umas das outras. É uma profunda escravidão. O ego tem que ser um escravo. Ele depende dos outros. E somente uma pessoa que não tenha ego é, pela primeira vez, um mestre; ele deixa de ser um escravo.

      Tente entender isso. E comece a procurar o ego - não nos outros, isso não é da sua conta, mas em você. Toda vez que se sentir infeliz, imediatamente feche os olhos e tente descobrir de onde a infelicidade está vindo, e você sempre descobrirá que o falso centro entrou em choque com alguém.

      Você esperava algo e isso não aconteceu. Você espera algo e justamente o contrário aconteceu - seu ego fica estremecido, você fica infeliz. Simplesmente olhe, sempre que estiver infeliz, tente descobrir a razão.

      As causas não estão fora de você.

      A causa básica está dentro de você - mas você sempre olha para fora, você sempre pergunta: 'Quem está me tornando infeliz?' 'Quem está causando a minha raiva?' 'Quem está causando a minha angústia?'

      Se você olhar para fora, você não perceberá. Simplesmente feche os olhos e sempre olhe para dentro. A origem de toda a infelicidade, da raiva e da angústia, está oculta dentro de você, é o seu ego. 

      E se você encontrar a origem, será fácil ir além dela. Se você puder ver que é o seu próprio ego que lhe causa problemas, você vai preferir abandoná-lo - porque ninguém é capaz de carregar a origem da infelicidade, uma vez que a tenha entendido. 

      Mas lembre-se, não há necessidade de abandonar o ego. Você não o pode abandonar. E se você tentar abandoná-lo, simplesmente estará conseguindo um outro ego mais sutil, que diz: 'tornei-me humilde'...

      Todo o caminho em direção ao divino, ao supremo, tem que passar através desse território do ego. O falso tem que ser entendido como falso. A origem da miséria tem que ser entendida como a origem da miséria - então ela simplesmente desaparece. Quando você sabe que ele é o veneno, ele desaparece. Quando você sabe que ele é o fogo, ele desaparece. Quando você sabe que esse é o inferno, ele desaparece. 

      E então você nunca diz: 'eu abandonei o ego'. Você simplesmente irá rir de toda essa história, dessa piada, pois você era o criador de toda essa infelicidade...

      É difícil ver o próprio ego. É muito fácil ver o ego nos outros. Mas esse não é o ponto, você não os pode ajudar.

      Tente ver o seu próprio ego. Simplesmente o observe.

      Não tenha pressa em abandoná-lo, simplesmente o observe. Quanto mais você observa, mais capaz você se torna. De repente, um dia, você simplesmente percebe que ele desapareceu. E quando ele desaparece por si mesmo, somente então ele realmente desaparece. Porque não existe outra maneira. Você não pode abandoná-lo antes do tempo. Ele cai exatamente como uma folha seca.

      Quando você tiver amadurecido através da compreensão, da consciência, e tiver sentido com totalidade que o ego é a causa de toda a sua infelicidade, um dia você simplesmente vê a folha seca caindo... e então o verdadeiro centro surge.

      E esse centro verdadeiro é a alma, o eu, o deus, a verdade, ou como quiser chamá-lo. Você pode lhe dar qualquer nome, aquele que preferir."

Osho