segunda-feira, 17 de março de 2008

sábado, 15 de março de 2008

Ó Gente Da Minha Terra

É meu e vosso este fado
Destino que nos amarra
Por mais que seja negado
Às cordas de uma guitarra

Sempre que se ouve o gemido
De uma guitarra a cantar
Fica-se logo perdido
Com vontade de chorar

Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que recebi

E pareceria ternura
Se eu me deixasse embalar
Era maior a amargura
Menos triste o meu cantar

Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que recebi

(SOLO)


Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que recebi

Chuva





As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudades
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir

Há gente que fica na história
da história da gentee
outras de quem nem o nome
lembramos ouvir

São emoções que dão vida
à saudade que trago
Aquelas que tive contigo
e acabei por perder

Há dias que marcam a alma
e a vida da gente
e aquele em que tu me deixaste
não posso esquecer

A chuva molhava-me o rosto
Gelado e cansado
As ruas que a cidade tinha
Já eu percorrera
Ai... meu choro de moça perdida
gritava à cidade
que o fogo do amor sob chuva
há instantes morrera

A chuva ouviu e calou
meu segredo à cidade
E eis que ela bate no vidro
Trazendo a saudade

Há uma musica do Povo



Há uma musica do povo,
Nem sei dizer se é um fado
Que ouvindo-a há um ritmo novo
No ser que tenho guardado…

Ouvindo-a sou quem seria
Se desejar fosse ser…
É uma simples melodia
Das que se aprendem a viver…

Mas é tão consoladora
A vaga e triste canção…
Que a minha alma já não chora
Nem eu tenho coração…

Sou uma emoção estrangeira,
Um erro de sonho ido…
Canto de qualquer maneira
E acabo com um sentido!

Fernando Pessoa 9/11/1928

quinta-feira, 13 de março de 2008

Um abraço...


O que eu que eu queria...

O que eu queria era amar-te
Sem recear por perder-te
Amar-te inteira e sorrindo
Por saber que, dia findo
Com teu riso voltarias
Sabendo que nunca irias
Para fora deste verso
E se fosses sempre vinhas
Com tuas mãos para as minhas
A celebrar o regresso.

O que queria era ser
De fases como a lua
Ter fases de estar sozinha
E fases de pequenina
Me deitar e ser só tua

O que eu queria era estar
Sempre certa do teu rumo
Deixar-te por mares errar
Por esses céus ir voar
Como o fazem as fadas
A saber que tudo tens
e não precisas de mim
A voltares quando quiseres
Para comigo encontrares
Os pedacinhos de nadas
Que fazem o teu jardim

A voltar quando sentisses
Vontade de descansar
De rir e de vir contar
O que viste e o que fizeste
Dos dias que lá passaste
O que gostaste e o que sabes
As montanhas que subiste
Os sonhos que repartiste
Os voos que dividiste
Com outras nuvens e aves

Dos voos da tua alma
Dos trapézios sem rede
Dos lagos da tua calma
Das águas, da tua sede
Das alegrias de antes…
Das descidas fulgurantes
Desde o céu até ao chão
E saber que se quisesses
Poderias vir pousar
Na palma da minha mão

A voltar porque sabias
Que a parte que te falta
É do tamanho da minha
E do vazio que trago
Quando eu fico sozinha.

Maria Furnas em "Princesa Borboleta"

Humanamente

Programa temático de psicologia apresentado na SIC Mulher


terça-feira, 4 de março de 2008

À Beira de Água

Estive sempre sentado nesta pedra
escutando, por assim dizer, o silêncio.
Ou no lago cair um fiozinho de água.
O lago é o tanque daquela idade
em que não tinha o coração
magoado. (Porque o amor, perdoa dizê-lo,
dói tanto! Todo o amor. Até o nosso,
tão feito de privação.) Estou onde
sempre estive: à beira de ser água.
Envelhecendo no rumor da bica
por onde corre apenas o silêncio.

Eugénio de Andrade
Os Sulcos da Sede