quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Palavra de Grande Inquisidor

“De tudo o que Dostoievski escreveu em Os Irmãos Karamazov o que mais me impressionou foi o incidente do “Grande Inquisidor”. É assim: Jesus havia voltado à terra e andava incógnito entre as pessoas Todos o reconheciam e sentiam o seu poder, mas ninguém se atrevia a pronunciar o seu nome. Não era necessário. De longe o Grande Inquisidor o observa no meio da multidão e ordena que ele seja preso e trazido à sua presença.. Então, diante do prisioneiro silencioso, ele profere a sua acusação.

“Não há nada mais sedutor aos olhos dos homens do que a liberdade de consciência, mas também não há nada mais terrível. Em lugar de pacificar a consciência humana, de uma vez por todas, mediante sólidos princípios, Tu lhe ofereceste o que há de mais estranho, de mais enigmático, de mais indeterminado, tudo o que ultrapassava as forças humanas: a liberdade. Agiste, pois, como se não amasses os homens... Em vez de Te apoderares da liberdade humana, Tu a multiplicaste, e assim fazendo, envenenaste com tormentos a vida do homem, para toda a eternidade...”

O Grande Inquisidor estava certo.Ele conhecia o coração dos homens. Os homens dizem amar a liberdade, mas, de posse dela, são tomados por um grande medo e fogem para abrigos seguros. A liberdade dá medo. Os homens são pássaros que amam o vôo, mas têm medo dos abismos. Por isso abandonam o vôo e se trancam em gaiolas.”

“Somos assim: sonhamos o voo mas tememos a altura . Para voar é preciso ter coragem para enfrentar o terror do vazio. Porque é só no vazio que o voo acontece. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Mas é isso o que tememos: o não ter certezas. Por isso trocamos o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde onde as certezas moram.
É um engano pensar que os homens seriam livres se pudessem, que eles não são livres porque um estranho os engaiolou, que eles voariam se as portas estivessem abertas. A verdade é oposto. Não há carcereiros. Os homens preferem as gaiolas aos voos. São eles mesmos que constroem as gaiolas em que se aprisionam...”

“Deus dá a nostalgia pelo voo.
As religiões constroem gaiolas”

“Os habrir as portas das gaiolas para que o Pássaro voe livre, não tem perdão. O seu deereges são aqueles que odeiam as gaiolas e abrem as suas portas para que o Pássaro Encantado voe livre. Esse pecado, stino é a fogueira. Palavra do Grande Inquisidor”

Rubem Alves
Correio Popular
22/05/05

3 comentários:

Anónimo disse...

"Viver feliz com outra pessoa é o maior desafio do mundo. É muito fácil viver pacificamente sozinho, é muito difícil viver pacificamente com outra pessoa, porque os dois mundos colidem, dois mundos se encontram... Mundos totalmente diferentes. Como é que eles são atraídos um pelo outro? Porque eles são totalmente diferentes, quase opostos, pólos opostos. Estamos no mundo para nos experimentar por meio do oposto. E por isso escolhemos, inconscientemente nossas experiências maiores em determinadas relações da nossa vida que incrementem nossas necessidades reais de evoluir.

É muito difícil ser pacífico num relacionamento, mas esse é o desafio. Se você fugir disso, você foge da maturidade. A tolerância, a paciência, o perdão e o entendimento são princípios básicos que o espírito desenvolve ao aprender o auto controle numa relação qualquer. Por que somos postos em muitos tipos de relações só para nos auto experimentar, tipo uma espécie de revelação de nosso próprio ser forçada de fora.

Se você vai fundo nisso, na sua própria experimentação pessoal, com toda a dor, e assim mesmo continua nisso, então pouco a pouco a dor se torna uma bênção, a maldição se torna uma bênção. Pouco a pouco, através do conflito, surge a fricção, a cristalização. Você encontra em você mesmo o ponto que te torna uma compreensão maior. Através da luta você fica mais alerta, mais consciente. Tudo isto é necessário para vivermos mais plenamente na caminhada da vida. Sem as relações ficamos vazios, sem pontos de encontros em nosso coração, em nossas emoções cambaleantes e assustadas.

O outro se torna como um espelho para você. Você pode ver sua feiúra no outro. O outro provoca sua inconsciência, trazendo-a para a superfície. Mas você também pode ver a sua beleza no bom sentimento de amor do outro. Tudo vai aparecendo na sua vida como um mistério de encontros humanos. Entretanto, seja sempre humilde.

Você terá que conhecer todas as partes ocultas do seu ser, e o caminho mais fácil é ser espelhado, refletido, num relacionamento. Por isso não tenha medo. Todos os relacionamentos são válidos. Todos. Esta parte da experiência em nossa vida é a mais importante. É na afeição que aprendemos com as pessoas, que despertamos aos poucos o nosso amor por Deus, entendendo o princípio de todas as relações, de todos os sentimentos e emoções. Não tenha medo de amar, de querer ser feliz, de sorrir, de chorar, de abraçar, de ficar em silêncio no seu êxtase. Deus Se manifesta nas relações de todos os tipos. As relações são vozes do amor divino nos dizendo.

É mais fácil ser espelhado porque não há outra maneira, mas isso é difícil, árduo, porque você terá que mudar através disso. Você terá que se observar através do mundo das relações, e saber da sua totalidade em suas diversas relações. Você tem que mudar, não pelo outro, mas pelo que você vê através do outro, na compreensão íntima de si mesmo. Não tenha tanto orgulho. As relações reais existem para que nós cresçamos, para que possamos ser plenos em nós, BUSCANDO NO OUTRO O REFLEXO QUE EU PRECISO VER EM MIM, mas sem ser uma cópia de ninguém! Porque o outro é a minha parte que falta no encontro do TODO. E no fundo, no fundo, cada um de nós é único na descoberta do outro.

Alemão

Anónimo disse...

Parece que o ser humano tem medo de ser livre. Ele quer um pai no céu, pelo menos para ouvir as queixas e as orações. Ele precisa de ter um pai no céu, como um Deus, para tomar conta dele. Sem um Deus no céu, ele sente-se como uma criança perdida. Psicologicamente, é uma fixação no pai"

"Milhares de anos de muitos géneros de escravatura fizeram de si alguém com muito medo de ser livre - que é o seu direito por nascimento e sua derradeira felicidade. Os seus templos e sinagogas e mesquitas e igrejas não são símbolos de liberdade, são símbolos da sua escravatura, dos seus tiranos mortais. Mas mesmo as pessoas inteligentes continuam a fazer o mesmo. A cegueira do ser humano parece ser ilimitada."

Osho - "Liberdade - A coragem de ser genuíno".

Anónimo disse...

Houve um tempo na história em que o dever era edificar muros para que as forças exteriores – bichos, meteorologia, outros homens – não impedissem o desenvolvimento, mas provavelmente haverá outra época em que o grande trabalho será o de derrubar muros de toda a espécie, não só os exteriores que os homens foram construindo por obrigação ou pelo gosto de progredir, mas também quebrar os interiores, que tantas vezes levantamos dentro de nós, como defesa da nossa comodidade ou como serviço da nossa preguiça.

Agostinho da Silva, Vida Conversável